Projetos em Areia, na Paraíba, incentivam o empreendedorismo

Comunidade Chã de Jardim se destaca no Brejo pela criatividade. 
Espírito de empreendedorismo é ‘feito’ até da palha seca da bananeira.

Criado em 2006, o projeto ‘Doce Jardim’ é uma prova de que a cidade de Areia, no Brejo paraibano, é única não apenas pela cultura, representada por personagens ilustres como o pintor Pedro Américo e o escritor José Américo de Almeida, nem pelo clima suave em tempos de sol escaldante. Na tranquila comunidade Chã de Jardim, na divisa de Areia com a cidade de Remígio, vivem 200 famílias, que aprenderam a olhar em volta e ver na natureza uma oportunidade para a independência financeira.

Os projetos de empreendedorismo da cidade têm como foco o turismo. “O projeto ‘Arte na Palha’, por exemplo, já existia. As artesãs sempre fizeram artesanato. Mas com o apoio do Sebrae e com a produção associada ao turismo foi um sucesso”, conta Mirian Rocha, consultora da Associação de Culturas Gerais (ACG), contratada pelo Sebrae.

“Antes, a maior parte das mulheres tinha como principal fonte de renda o ‘Bolsa  Família’. Elas vão pegar o dinheiro, porque não vão deixar lá. Mas aprenderam a depender de si mesmas ao apostarem na criatividade”, disse a coordenadora do projeto, Luciana Balbino.

Na Chã de Jardim, há três empreendimentos montados com a ajuda da criatividade, fruto de um povo simples, mas com espírito empreendedor. Na fábrica de polpa de frutas, trabalham cinco jovens. Por dia, são feitas 230 kg de polpa, tudo certificado pelo Ministério da Agricultura, ainda de acordo com Luciana Balbino. “A nossa polpa é orgânica, sem conservantes, sem água, sem nenhum produto químico”, acrescenta a coordenadora.

O extrato é produzido com frutas fornecidas por agricultores da região, ligados à agricultura familiar. Na venda das frutas para a fábrica, eles conseguem uma nova fonte de renda. “Os cinco jovens que trabalham na fábrica de forma direta produzem polpa de caju, cajá, abacaxi, manga, acerola, umbu-cajá e goiaba. O preço do quilo é de R$ 5, sendo 10 pacotes de 100 gramas que chegam a produzir dependendo do sabor até cinco litros de suco”, explica Luciana Balbino.

Construída em 1996, a fábrica de polpa de fruta passou dez anos fechada. Só voltou a funcionar graças a um grupo de jovens através da Associação para o desenvolvimento sustentável da comunidade da Chã de Jardim (Adesco).

Arte na Palha
Mas a criatividade do povo da Comunidade Chã de Jardim foi além. Com a palha da bananeira, 12 mulheres conseguem fabricar bolsas para congresso que são vendidas até para outros estados como Porto Alegre com o projeto ‘Arte na Mão’. Ao custo de R$ 10, as bolsas são vendidas por até R$ 50, ainda segundo Luciana Balbino.

Produtos feitos com a palha da banana
(Foto: Jorge Machado/G1)

A artesã Maria do Socorro Santos está no projeto desde 2007. “Eu vivo da agricultura e, às vezes, há meses em que eu tiro até um salário [mínimo]”, conta. Maria do Socorro diz ter ficado surpresa ao aprender que a palha seca da bananeira, “que não dava tanta atenção assim”, se transforma em pastas para congresso, bolsas, esteiras. “Nós fazemos muitos produtos com a ajuda da palha seca da banana”, explica ainda com ar de surpresa.

Piquenique na Mata
Aproveitar a sombra das árvores é mais um exemplo da força empreendedora que têm os moradores. Com a consultoria do Sebrae, o ‘Piquenique na Mata’ virou mais uma forma de gerar divisas para os moradores da Comunidade Chã de Jardim.

Rejane Ribeiro, de 18 anos, está no projeto desde os 14. Com o sonho de ser cantora desde os 9 anos, o ‘Piquenique na Mata’ foi a grande oportunidade que encontrou para mostrar o talento aos turistas que visitam a comunidade todos os dias da semana, que fica aberta das 8h as 17h. “Eu fico feliz ao ver as pessoas me elogiarem. Comecei cantando na igreja que frequento, mas cantar no projeto tem algo de especial”, revela.

Com o apoio do Sebrae, Rejane é contratada para se apresentar nos restaurantes e hotéis de Areia. O incentivo para que ela lançasse o CD na Feira do Empreendedor – realizada pelo órgão anualmente – foi outro grande incentivo.

Mas, como a consultora da agência contratada pelo Sebrae ressalta, o sucesso para que aconteça é preciso que haja oportunidade – no caso, a potencialidade nata do lugar – mais também outros fatores igualmente importantes, como ter uma boa metodologia para colocar em prática as ideias. “Temos quatro etapas, iniciando pela pesquisa de gabinete e levantamento do potencial local, organização das atividades, verificação das atividades e acompanhamento e colocação no mercado”, explica.

Ao chegar à cidade de Areia, Mírian Rocha explica que o turista vivencia todas as atividades, em uma integração total com a comunidade.

Em frente à fábrica de polpa de frutas, ao lado da loja onde são vendidos os produtos feitos com a palha seca da bananeiras, debaixo de árvores gigantescas, turistas têm a oportunidade de provar deliciosas frutas e ouvir o melhor da música popular brasileira na voz de Rejane. “Quando saem, nós incentivamos o plantio de uma muda de árvore para que o espírito de conservação fique ainda mais presentes nas pessoas”, explica Luciana Balbino.

Planos
Se não falta criatividade, a Comunidade Doce Jardim tem planos de se expandir. “Estamos construindo a cozinha rural Doce Jardim, além de um restaurante de comida regional. Vamos ter também frutas desidratadas e todos os nossos produtos vão ter a nossa marca”, finaliza Luciana Balbino.


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