Políticas inovadoras para o meio ambiente podem são fatores importantes para os índices de qualidade de vida
Não é preciso ser um gigante econômico para oferecer qualidade de vida à sua população. Em seu livro “Une ecologie du bonheur” (“Uma ecologia da felicidade”, em tradução livre), o geógrafo belga Eric Lambin, professor na Universidade de Stanford, Califórnia, mostra como três países não tão ricos utilizaram políticas inovadoras colocando a felicidade acima do Produto Interno Bruto (PIB). Embora ainda enfrentem problemas políticos e sociais, a Costa Rica, o Vietnã e o Butão sempre aparecem bem colocados no ranking das nações mais felizes. Não por acaso, têm em comum a implementação de políticas inovadoras que favorecem o meio ambiente e os espaços verdes.
Pequena nação encravada no meio da Cordilheira dos Himalaias, o Butão possui inclusive um índice para medir sua “Felicidade Interna Bruta”. Por ser uma monarquia fechada, fica menos complexo, do ponto de vista administrativo, abrir mão da rentável exportação de madeira para que 60% do território permaneça coberto por florestas originais. Mas democracias com economia aberta como a Costa Rica também seguiram esta direção. Depois de desmatar quase 70% de sua floresta para o pasto, o país decidiu priorizar suas belezas naturais e ecossistemas, apostando alto no ecoturismo. Depois de proteger 25% do território com reservas e parques ecológicos, recebe hoje cerca de 2 milhões de visitantes por ano.
— As políticas climáticas, urbanas e de serviços podem nos tornar mais ou menos felizes — opina Lambin. — Políticas inovadoras como as do Butão e da Costa Rica mostram um caminho.
Em seu livro, Lambin também aponta que países mais felizes costumam ser aqueles em que uma boa porcentagem da população cultiva valores pós-materialistas. Na prática, isso significa se interessar por questões culturais e espirituais muito mais do que materiais. Por exemplo, investir num curso de poesia japonesa, ou numa viagem com roteiro ecoturístico, em vez de um novo carro importado. Ao dar menos ênfase no consumo, este tipo de cultura também gera menos impacto ambiental.
— É importante salientar, contudo, que só vemos aparecer estes valores no momento em que um limiar de riqueza for ultrapassado — pondera o geógrafo. — Não há como falar em pós-materialismo quando as pessoas não conseguem sequer alimentar suas crianças ou ter acesso a água potável. Só a partir de uma renda aproximada de 25 mil dólares por ano, atingida por famílias de países desenvolvidos e com um bom sistema de educação, que surgem as condições necessárias para que as pessoas deem menos valor a bens materiais.
Fonte: O globo