A baiana decidiu dar uma guinada em sua vida e ao emprego de babá somou a faculdade de Pedagogia
A história de Veronice Diniz, 43 anos, daria um livro de conto de fadas com direito a final feliz. No enredo tem príncipe, fada madrinha e ela, claro, faz o papel de princesa moderna: lutadora e vencedora. Aos 38 anos, a baiana decidiu dar uma guinada em sua vida e ao emprego de babá somou a faculdade de Pedagogia, na UniCarioca.
Atualmente, Veronice é professora auxiliar de uma tradicional escola da Zona Sul do Rio e continua os estudos na unidade do Méier cursando a pós-graduação de Psicopedagogia Clínica e Institucional, com ênfase em educação especial e inclusiva.
Tudo começou quando se mudou para o Rio com a avó, aos oito anos, e, na escola, a professora perguntou o que os alunos fariam quando terminasse o ano letivo, o último oferecido por aquele colégio público, a antiga 4ª série. Nordestina, com uma vó analfabeta e sem ninguém para orientá-la, Veronice respondeu que não tinha planos.
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Inconformada, a professora se prontificou a ajudá-la e fez sua inscrição para o Pedro II, para onde a aplicada aluna passou e estudou até o fim do ensino médio. Em seguida prestou vestibular para Letras e passou para a UFF (Universidade Federal Fluminense), mas não se matriculou, pois a necessidade de trabalhar falou mais alto.
O tempo passou, Veronice casou e teve quatro filhas. Em 2012 foi trabalhar de babá para um casal e, conversando, descobriram que ela tinha concluído os estudos no Pedro II. Insistiram para que ela retomasse os estudos e se ofereceram para pagar o cursinho preparatório. Valdnei, seu esposo, também a incentivou, fazendo-a acreditar que seria capaz.
“Quando minha filha me ligou contando que estava doida para postar que tinha uma mãe universitária, achei que fosse brincadeira dela. Aquele sonho estava engavetado há dez anos, realmente eu não imaginava”, lembra Veronice.
No 5° período de faculdade, um susto. Os patrões anunciaram que iriam se mudar para Petrópolis e Veronice já imaginou que teria que adiar seu projeto mais uma vez. Mas eles perguntaram na escola dos filhos se não haveria uma vaga de estágio para ela e deu certo.
“Esse casal foi uma das melhores coisas que me aconteceu. Tínhamos combinado de ficarmos juntos até a formatura, mas a mudança deles veio antes. Hoje são meus amigos pessoais”, diz. Depois de dois anos como estagiária, veio a contratação para o cargo de professora auxiliar.
Para conciliar suas atividades, a estudante precisou de muito apoio da família, que compreendeu sua ausência. Em sua nova rotina, não era raro sair de casa às 6h da manhã e só retornar meia-noite. “Chegava em casa e lá estava meu marido com a comida quentinha no prato me esperando”, conta.
Com uma história assim, Veronice, claro, serviu de inspiração para as filhas. Edilaine e Vanessa pretendem seguir a carreira da mãe. A primeira já está na faculdade, também na UniCarioca, e a segunda fazendo preparatório para o Enem. Vivian também vai prestar o exame, mas quer ser advogada. Vida, a mais nova, está no 2º ano do Ensino Médio e vai tentar medicina.
“É muito bom saber que posso ser exemplo para outras pessoas. Sou uma mulher que se formou depois dos 40, nordestina, negra, moradora de favela e estudante de escola pública. Mas eu consegui e estou conseguindo, porque não pretendo parar”, afirma.
Veronice de fato tem do que se orgulhar. De acordo com dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), atualmente menos de 2% dos moradores de favelas concluem o ensino superior. Com curso de pós-graduação, então, nem entra na estatística.
Mas, como toda boa baiana arretada, ela quer mais. “Pretendo chegar até o doutorado. Meu sonho é fazer a diferença na educação, ajudando as classes menos favorecidas e que estão à margem da sociedade. Acredito que tudo se resolve com educação”, conclui.
fonte: razoesparaacreditar.com